Previna-se contra a dominação ideológica
O bem e o mal estão dentro de nós. Ninguém é só bom ou só mau. Saber harmonizar as tendências antagônicas é fundamental para se ter paz de espírito. Quando não conseguimos reconhecer e equilibrar a dualidade existente dentro de nós, ficamos em conflito.
Diante do conflito, a saída mais fácil é reprimir o que consideramos negativo e empurrá-lo para o fundo do nosso inconsciente.
Como essa força incômoda continua existindo e fazendo pressão internamente, muitas pessoas transferem essa carga para os outros. Esse mecanismo de defesa psicológica se chama projeção.
Projetamos no outro tudo aquilo que consideramos negativo em nós e que não conseguimos resolver internamente. Então enxergamos nos amigos ou parentes alguns traços de comportamento que nos desconcertam. Criticamos e apontamos aquilo que não conseguimos reconhecer em nós.
Entretanto, às vezes é difícil fazer de alguém próximo de nós a personificação do mal. É bem mais fácil criar um inimigo distante, na forma de um coletivo mal definido. Assim não precisamos lidar com a culpa de saber que uma pessoa específica não é tão ruim como estamos tentando fazê-la parecer.
É dessa forma que líderes oportunistas mobilizam as massas demonizando um grupo escolhido para representar todo o mal. Para os da direita são os da esquerda. Para os evangélicos são as religiões de matriz africana. Para os israelenses são os palestinos. E vice versa em todos esses casos.
Aqueles que se deixam manipular e participam dessas polarizações como marionetes encontram conforto no fato de não precisarem lidar com o mal dentro deles mesmos.
É sempre mais fácil enxergar o cisco no olho do outro do que a trave que bloqueia nossa visão.
O grande problema é que ao aderir a um pensamento ideológico, assumimos o comportamento do grupo com o qual nos identificamos. Isso significa que adotamos uma persona que não é nossa e abrimos mão de pensar de maneira reflexiva.
É fácil identificar quando alguém se entregou a uma persona coletiva de viés ideológico. Isso porque se conhecemos um pouco da ideologia que dominou sua mente, é possível saber antecipadamente o que ela vai falar. O discurso é robótico, a capacidade de argumentação é reduzida e a probabilidade de algo tocar seu íntimo e lhe fazer mudar de opinião é quase nula.
Em tempos de obscuridade, a sensatez é uma ofensa.