Esclerose Múltipla, mielina e colesterol: nova associação descoberta
A Esclerose Múltipla é uma doença inflamatória, de origem autoimune, que causa danos sobre o sistema nervoso central. Um dos primeiros e principais alvos do sistema imunológico no cérebro é a bainha de mielina que envolve e protege os neurônios. Por causar a destruição da bainha de mielina, a Esclerose Múltipla é conhecida como uma doença desmielinizante. Um dos principais componentes da bainha de mielina é o colesterol. Veremos nesse artigo como os níveis de colesterol interferem com o início e a evolução da esclerose múltipla.
O colesterol é um tipo de gordura que faz parte da estrutura de muitas células, especialmente das membranas celulares. Ele é essencial para as funções cerebrais e é um dos principais componentes da bainha de mielina. Os níveis altos de colesterol podem ser maléficos para o desenvolvimento da Esclerose Múltipla. Várias pesquisas buscam entender o papel do colesterol nas doenças desmielinizantes e modificar a evolução da doença pelo controle dessa gordura.
O que é o colesterol
O colesterol é uma gordura própria dos animais. Ela compõe 30% de todas as membranas celulares. As plantas não produzem colesterol, mas sim análogos denominados fitoesteróis. O colesterol é necessário para a composição da vitamina D, dos hormônios sexuais, do cortisol e também da bainha de mielina.
As principais fontes dietéticas são as carnes vermelhas, a gema de ovo, fígado, rins, óleo de peixe e manteiga. Como o colesterol é uma gordura, ela não se mistura com água e para ser transportada no sangue ele é empacotado em proteínas, formando as lipoproteínas.
A dosagem no sangue é bastante comum porque sabemos que o excesso de colesterol está relacionado a doenças vasculares, infarto cardíaco e acidentes vasculares cerebrais.
Nos testes de laboratoriais dosamos as formas do colesterol denominadas lipoproteínas, com suas diferentes densidades:
- HDL: lipoproteína de alta densidade é considerada protetora
- LDL: lipoproteína de baixa densidade é chamada de “colesterol ruim” porque ela se deposita nas artérias levando ao seu entupimento
- E ainda: IDL, de densidade intermediária, VLDL de densidade muito baixa e quilomícrons que são as menores de todas
Essas formas de colesterol são utilizadas como biomarcadores para o controle das doenças e seus níveis interferem com a evolução da esclerose múltipla.
Esclerose múltipla e colesterol
Segundo estudo publicado em 01/08/2019 no European Journal of Neurology, o colesterol total e o LDL elevados na esclerose múltipla estão associados a uma progressão mais grave, em termos de incapacidades e comprometimento funcional.
No começo da doença, a presença de elevação de LDL e de Apolipoproteína B (marcador associado ao LDL) aumenta o risco de haver mais lesões cerebrais. Por outro lado, o aumento do HDL e da Apo A, que são considerados protetores, está relacionado a uma maior integridade da barreira hemato-encefálico e maior proteção para o cérebro.
Com esses poucos dados, já podemos fazer duas recomendações que podem aumentar a saúde cerebral dos portadores de esclerose múltipla:
- Procurem manter uma dieta saudável, com pouca gordura animal
- Façam exercícios regularmente
A dieta com pouca gordura abaixa os níveis de LDL que é danoso ao cérebro e pode diminuir o risco de lesões desmielinizantes.
Exercícios físicos regulares aumentam os níveis de HDL que é protetor e pode ajudar a manter a integridade cerebral.
Ainda na pesquisa citada, realizada na Universidade Estadual de Nova Iorque, em Buffalo – NY, indivíduos com níveis mais altos de HDL e Apo A ao longo de 5 anos de acompanhamento tiveram menor atrofia cerebral e menor risco de converterem para a forma progressiva secundária da EM. Por outro lado, elevações no LDL estiveram associados com lesões mais volumosas visíveis na ressonância.
Entenda como a pesquisa foi feita
No estudo realizado por Nitya Murali e colaboradores, foram selecionados 154 indivíduos que foram acompanhados por 5 anos, dosando periodicamente os níveis de colesterol e apolipoproteínas associadas.
Desse total, 41 eram pessoas saudáveis que serviram de controle, 76 eram portadoras da forma remitente-recorrente da Esclerose Múltipla e 37 tinha a forma progressiva primária da doença.
O que se verificou foi que maiores ganhos de HDL e APO-A ao longo do tempo se associaram a uma maior proteção do cérebro. O efeito observado foi uma menor chance de ter atrofia da substancia cinzenta ou do córtex cerebral.
Em contrapartida, maiores aumentos de LDL e APO-B ao longo do tempo se associaram a uma menor proteção do cérebro. Pessoas com níveis mais altos do chamado “colesterol ruim” tiveram mais lesões desmielinizantes e estas eram mais volumosas. Isso foi medido por ressonância magnética.
Limitações do estudo
Apesar de chamar a atenção para um fator importante e potencialmente modificável, essa pesquisa indica a necessidade de maiores estudos.
Ainda não sabemos se diminuir os níveis de LDL e aumentar os de HDL terá um impacto na evolução da esclerose múltipla. Existem alguns estudos em andamento avaliando a utilização de sinvastatina em vários estágios da Esclerose Múltipla para checar a questão. Mas, como já se sabe que o colesterol elevado é causa de infarto cardíaco e AVC, então independente de qualquer coisa, merece tratamento por si só.
Além disso, é preciso ressaltar que ter o colesterol alto não aumenta o risco de desenvolver esclerose múltipla. A pesquisa não foi desenhada para detectar o risco de desenvolver esclerose multipla em portadores de dislipidemia. O estudo foi feito para ver o impacto do colesterol em pacientes já diagnosticados com a doença.
Por fim, como os níveis de colesterol dependem muito de fatores genéticos, não é possível determinar se é a gordura em si que piora a EM ou se o perfil genético dos pacientes com colesterol alto está associada com uma evolução da doença mais ou menos agressiva.
Estilo de vida saudável é favorável em todos os aspectos
Pessoas convivendo com Esclerose Múltipla são favorecidas por um estilo de vida mais saudável. É conveniente dormir bem, evitar o calor, controlar as jornadas de trabalho, não fumar e fazer exercícios regularmente.

Além de ajudar na fadiga, os exercícios melhoram o perfil lipídico, diminuindo o colesterol ruim e aumentando o protetor, o que pode ser bom também a longo prazo na evolução da doença. Uma alimentação saudável também reduz as gorduras nocivas e permite que o organismo funcione mais levemente.
Considerando os achados desse recente estudo e os conhecimentos já estabelecidos, podemos incentivar ainda mais nossos amigos portadores a cuidar bem do corpo para que tenham uma melhor qualidade de vida.
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