A Enxaqueca é a principal forma de dor de cabeça e afeta a vida de quase 15% de todas as pessoas do mundo. As mulheres são mais suscetíveis que os homens na proporção de duas mulheres para um homem. As crises podem causar dor forte que se estende por horas e comprometer a vida profissional, social e familiar. Para melhorar a qualidade de vida, o tratamento adequado é fundamental.

O que é Enxaqueca?

A Enxaqueca ou Migrânea é um tipo de dor de cabeça com certas características: a dor é forte, do tipo pulsátil, muitas vezes atinge apenas a metade da cabeça (por isso é chamada também de hemicrania ou migrânea), pode ser de forte intensidade e é acompanhada com sintomas digestivos como náuseas, além de intolerância à luz (fotofobia) ou som (fonofobia) etc. A enxaqueca acomete três vezes mais mulheres do que homens e uma crise pode durar até 48 horas.

Você sabia que a enxaqueca não tem uma causa externa? Muitas pessoas acreditam que a enxaqueca é derivada de um problema de fígado ou estômago, mas na verdade ela é classificada como um “cefaleia primária”. Isso significa que ela é uma cefaleia (o mesmo que dor de cabeça) que não tem origem em outro fator orgânico. A enxaqueca é a própria doença e não o sintoma de um outro problema no cérebro ou no corpo. Portanto, vamos agora conhecer mais sobre essa doença que afeta tantas pessoas.

a enxaqueca está presente em quase todas as famílias
A enxaqueca afeta 18% das mulheres e 6% dos homens

Sintomas da Enxaqueca:

Os sintomas da Enxaqueca se desenvolvem em etapas sucessivas, sendo que a etapa da dor é a mais facilmente observada. Todavia, a enxaqueca é uma alteração do cérebro que compreende várias alterações fisiológicas de neurotransmissores e de estruturas cerebrais. Assim, vejamos as várias etapas da Enxaqueca:

Pródromo

Um ou dois dias antes da enxaqueca podem aparecer algumas alterações. Tais mudanças sutis podem ser indícios de que uma enxaqueca está próxima:

  • Intestino preso (obstipação)
  • Alterações de humor para mais (euforia) ou para menos (depressão)
  • Desejos alimentares (certos apetites, como vontade de comer chocolate, podem ser sinais de uma enxaqueca)
  • Rigidez ou tensão no pescoço
  • Sensação de sede ou aumento da urina
  • Bocejos frequentes

Aura

A aura é uma manifestação que ocorre logo antes da fase dolorosa, mas pode aparecer também durante a dor. A maior parte das pessoas que têm enxaqueca não apresentam aura. Todavia, as que reconhecem a aura sabe com certeza que logo virá uma enxaqueca.

Quando a aura aparece, o processo da enxaqueca já se iniciou no cérebro. Ou seja, existem alterações neurológicas que são responsáveis pelos sintomas que são principalmente visuais. Contudo, existem outros sintomas relacionados a auras, como formigamentos no corpo, dificuldade para escrever ou falar e até fraqueza em algum membro do corpo.

Os sintomas da aura se desenvolvem ao longo de minutos, vão crescendo até atingir o máximo, durando de 20 minutos a uma hora. Depois disso, essas sensações amenizam e a dor de cabeça se manifesta.

Tipos de sintomas de aura:

  • visão de luzes, flashes ou formas geométricas que piscam
  • perda da visão, especialmente de um lado do campo visual
  • formigamento e agulhadas em um braço ou perna
  • adormecimento ou anestesia de um lado do rosto ou do corpo
  • dificuldade para falar
  • movimentos incontroláveis no corpo
  • ouvir sons estranhos
  • perda de força em uma metade do corpo
  • tontura rotatória e oscilações na visão

Ataque ou fase da dor propriamente dita:

Finalmente vem a fase da dor que é de média a forte intensidade. Tipicamente a dor é do tipo pulsátil (latejando com um coração batendo). A localização deve ser, pelo algumas vezes, apenas na metade da cabeça. A dor que pega metade da cabeça é denominada dor “hemicraniana” (hemi= metade; craniana: cabeça). Algumas crises podem ser do lado direito e outras do lado esquerdo.

Quando a dor é forte, ela pode impedir que a pessoa continue trabalhando ou estudando. A enxaqueca ou migrânea pode se iniciar a qualquer hora do dia, mas comumente ouvimos os pacientes dizerem que é mais no final da tarde.

Além da dor, que é o sintomas principal, existem outros sintomas que caracterizam esse período:

  • náuseas e/ou vômitos
  • fotofobia (claridade incomoda)
  • fonofobia (barulhos incomodam)
  • osmofobia (cheiros incomodam)
  • piora da dor com o esforço físico

Pós-dromo

Depois da fase do ataque, pode persistir um mal estar que muitos referem como uma ressaca da crise. Evidentemente, esses sintomas são resultados do processo de recuperação do cérebro após várias alterações ocorridas durante a crise. Nas 24 horas depois da crise, o paciente pode sentir ainda um esgotamento, sem forças.

As alterações mais observadas são:

  • confusão mental
  • humor irritadiço ou muito sensível
  • tontura
  • fraqueza geral
  • intolerância a luz e som

Os tipos de Enxaqueca:

Na sessão acima, citamos a fase de aura na qual o paciente apresente sintomas neurológicos focais, como luzes piscando na visão, formigamento no rosto, perda parcial do campo visual etc. Contudo, apenas 10 a 30% dos pacientes com enxaqueca sofrem dos sintomas de aura enxaquecosa. A maior parte das pessoas têm apenas as outras etapas, sendo que a maioria só percebe mesmo a fase do ataque de dor e um pouco da ressaca que fica no dia seguinte.

A International Headache Society tem uma classificação para todos os tipos de dor de cabeça, incluindo as cefaleias primárias como a enxaqueca e as cefaleias secundárias como as decorrentes de problemas na coluna. Você pode baixar a classificação  aqui e entender como o neurologista trabalha. Durante a consulta coletamos todos os dados necessários para fazer a classificação correta da dor de cabeça. Em consequência, podemos indicar o melhor tratamento de acordo com o tipo de cefaleia.

A seguir, saiba como se classifica a enxaqueca.

1- Migrânea sem aura (Enxaqueca comum)

É a forma mais comum de enxaqueca. A pessoa acometida por esse problema não apresenta sintomas neurológicos focais precedendo a crise. Portanto, vamos aos critérios necessários para o diagnóstico da Migrânea sem aura:

  1. pelo menos 5 ataques preenchendo os critérios 2, 3 e 4
  2. duração de 4 a 72 horas
  3. a dor de cabeça tem pelo menos 2 das 4 características abaixo:
    1. dói apenas um lado da cabeça
    2. a dor é tipo pulsátil ou latejante
    3. a intensidade é moderada ou severa
    4. piora com esforço físico ou a pessoa evita se esforçar
  4. durante a dor a pessoa sente pelo menos um de dois sintomas:
    1. náusea ou vômito
    2. incômodo com a claridade (fotofobia) ou com o barulho (fonofobia)
  5. não existe outra causa que justifique a dor segundo a classificação da ICHD-3

Como se pode ver, nem toda dor de cabeça é enxaqueca. De fato, mesmo a enxaqueca simples requer o preenchimento de critérios para o diagnóstico. Isso porque as enxaquecas representam um problema específico no cérebro. Consequentemente, os tratamentos para enxaqueca são diferentes dos recomenados para outros tipos de dor de cabeça.

2- Migrânea com aura (Enxaqueca clássica)

Conforme vimos, apenas 10 a 30% dos pacientes enxaquecosos tem a aura. Geralmente a aura dura em torno de 20 a 30 minutos e os sintomas são bem característicos. Comumente, os sintomas são visuais e podem ser positivos quando a pessoa enxerga algo inexistente, como uma um zigzag cintilante, ou negativos, quando se perde uma parte da visão.

Abaixo, vemos os critérios para o diagnóstico de enxaqueca com aura:

  1. pelo menos dois ataques preenchendo os critérios 2 e 3
  2. um ou mais dos sintomas de aura completamente reversíveis
    1. visual
    2. sensitivo
    3. linguagem ou fala
    4. motor
    5. tronco cerebral
    6. retiniano
  3. Pelo menos 3 das seguintes 6 características:
    1. pelo menos um sintoma de aura se espalha gradualmente em 5 minutos
    2. dois ou mais sintomas de aura ocorrem em sucessão
    3. cada sintoma individual dura 5 a 60 minutos
    4. pelo menos um sintoma é unilateral
    5. pelo menos um sintoma de aura é positivo
    6. a aura é acompanhada ou seguida por dor de cabeça em até 60 minutos
  4. Não há explicação melhor segundo a ICHD-3
escotomas cintilantes
Padrões de zig-zag cintilantes são frequentes na aura da enxaqueca

3- Outros tipos de migrânea

Além da enxaqueca com aura e enxaqueca sem aura, temos outros tipos. Entre eles, citamos a enxaqueca crônica, a enxaqueca hemiplégica familiar, estado de aura sem dor etc. Como se pode observar, é necessário cuidado e método para que o neurologista faça o diagnóstico preciso.

Como se faz o diagnóstico da enxaqueca

O diagnóstico da enxaqueca é clínico. Desse modo, não são necessários exames complementares para se realizar o diagnóstico e iniciar o tratamento. Entretanto, em alguns casos precisamos pedir exames para descartar problemas neurológicos ou clínicos que podem ser confundidos com enxaqueca.

Muitos pacientes procuram o médico e esperam que ele peça uma tomografia ou uma ressonância para confirmar o tipo de dor. Todavia, nos casos de migrânea real os exames são completamente normais. Não há qualquer alteração na ressonância ou tomografia que confirme o diagnóstico de enxaqueca. Além disso, o Eletroencefalograma não tem qualquer indicação no diagnóstico ou no tratamento da enxaqueca. Assim, se seu médico pede sempre um EEG para sua dor de cabeça, ele não está seguindo as recomendações científicas e você deve ficar atento(a).

Apesar do que falamos acima, existem situações em que indicamos a realização de um exame de imagem. Veja quais são elas:

  • Primeira cefaleia severa ou piora da dor
  • Mudança no padrão de uma enxaqueca prévia
  • Exame neurológico anormal
  • Início de enxaqueca após os 50 anos
  • Nova dor de cabeça em paciente imunocomprometido (HIV, câncer etc)
  • Cefaléia com febre
  • Enxaqueca e epilepsia
  • Nova dor de cabeça diária e persistente
  • Agravamento da frequencia ou intensidade da cefaléia sem história de abuso de medicação
  • Cefaleias localizadas posteriomente (especialmente em crianças, mas também em adultos)

Além dos exames de imagem, em algumas situações o neurologista também pedirá exames de sangue. Nesses casos, o que buscamos é encontrar problemas que possam causar inflamações, alterações metabólicas etc.

Como tratamos a Enxaqueca

Existem dois tipos de tratamento: o sintomático e o preventivo. O tratamento sintomático é aquele que se faz para o controle imediato das crises. O tratamento preventivo é o que se recomenda para evitar que a pessoa tenha dor com muita frequência ou intensidade.

Tratamento sintomático

Existem vários medicamentos que podem ser utilizados no controle da dor. Em geral as pessoas utilizam medicamentos vendidos sem receita. Alguns são bastante conhecidos, como a dipirona, o paracetamol e os anti-inflamatórios, tal como o ibuprofeno e o naproxeno. Nos medicamentos específicos para enxaqueca, além do analgésico, em geral temos a cafeína, um antiemético como a metoclopramida e, eventualmente, um anti-migranoso específico como a ergotamina.

É preciso tomar cuidado porque o uso repetitivo desses medicamentos podem transformar uma enxaqueca episódica em crônica. Em consequência, o paciente passa a ter dor mais de 15 dias por mês, a dor é quase constante, embora de menor intensidade. A cefaleia por abuso medicamentoso é um problema muito frequente e requer atenção médica especial.

Tratamento preventivo

Quando uma pessoa tem mais do que 8 a 10 dias de dor por mês, é aconselhável procurar um neurologista e iniciar tratamento para diminuir a frequência das crises. Isso é o que se chama de tratamento preventivo ou profilático. Visto que a alta frequência de dor compromete a qualidade de vida, é necessário intervir com um tratamento para impedir que a dor apareça. A fim de reduzir a frequência, intensidade e duração das crises de enxaqueca, indicamos certos medicamentos e terapias não medicamentosas.

Há uma série de substâncias que podem ser usadas no controle da enxaqueca. Entre elas, podemos citar medicamentos antiepilépticos, antidepressivos, betabloqueadores e os mais novos inibidores de CGRP, ainda não disponíveis no Brasil. É provável que muitos pacientes achem estranho usar um antiepiléptico para enxaqueca, considerando que uma coisa não tem nada a ver com outra. Na verdade, dos antiepilépticos, apenas ou valproato de sódio e o topiramato são usados para controle de enxaqueca. Isso porque eles atuam em outros aspectos do cérebro. Do mesmo modo, alguns antidepressivos, como os tricíclicos ou a venlafaxina podem ser usados, mas a fluoxetina ou a sertralina não têm ação sobre dor de cabeça.

O importante é saber que não existe uma fórmula que sirva para todos os pacientes. O neurologista experiente sabe escolher o medicamento que melhor se adapte às necessidades do paciente, bem como a dose adequada. O tratamento é individualizado e por isso os resultados variam tanto.

Estamos à sua disposição para lhe proporcionar um tratamento que recupere sua qualidade de vida e que não lhe cause efeitos colaterais indesejados. Entre em contato conosco para maiores informações!

Roger Taussig Soares
Neurologista SP
crm 69239

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