Delirium Agudo em idosos – o papel da família

Atualizado pela última vez em 06/03/2024

O delirium agudo é um estado de confusão mental que acontece frequentemente em idosos internados no hospital. Os sintomas principais são sonolência alternada com períodos de agitação. Nesses casos, o tratamento não-medicamentoso é uma ferramente importante para o controle e mesmo para prevenção desse problema. Na verdade, o delirium pode ocasionar o prolongamento das internações e seu tratamento beneficia o paciente. Assim,, o papel da família é fundamental para o sucesso do tratamento e para alta hospitalar mais rápida.

Quais os tipos de delirium agudo

O delirium agudo pode ser de dois tipos: o hipoativo e o hiperativo. Em primeiro lugar, temos o hipoativo no qual predomina o rebaixamento do nível de consciência que varia de sonolência excessiva até o estupor e coma. Em segundo lugar, temos o hiperativo, caracterizado por agitação psicomotora, acompanhado ou não de alucinações visuais, auditivas e idéias delirantes. Comumente surgem também distúrbios de comportamento, como agressividade, irritabilidade e desorientação. Habitualmente observa-se a mistura desses 2 tipos de sintomas, com flutuações da consciência ao longo do tempo, alternando entre períodos de sonolência e de agitação.

Porque o delirium agudo acontece em idosos

Os idosos, mesmo não sendo portadores de Alzheimer ou outro tipo de demência, são particularmente suscetíveis a essas alterações de origem cerebral. Estudos mostram que indivíduos acima de 75 anos submetidos a uma cirurgia ortopédica tem chance de até 15% de desenvolver delírio agudo no período pós-operatório. Idosos portadores de doenças como Alzheimer, Parkinson e outras demências tem risco aumentado para delirium.

As causas do delirium agudo são múltiplas

A causa do distúrbio é entendida, atualmente, como sendo uma conjunção de vários fatores de risco. Dentre eles podemos citar: idade maior que 75 anos; infecções; uso de antibióticos e outras medicações, tais como corticosteróides, sedativos e analgésicos (especialmente os derivados de morfina); cirurgias de médio ou grande porte; anestesia; insuficiência renal ou hepática; alterações da concentração de sódio, cálcio, magnésio e de outras substâncias encontradas normalmente no sangue. O neurologista solicita os exames necessários para detectar o problema. Além disso, procura controlar os fatores de risco e auxiliar na prevenção dos sintomas.

Quanto menos medicamentos, melhor

Infelizmente, as pesquisas com uso de medicações antes de procedimentos cirúrgicos não se revelaram eficazes para prevenir o delírio. Por outro lado, a utilização de medidas não-farmacológicas se provou útil e desejável. Portanto, queremos dar alguns conselhos para os familiares de idosos que serão submetidos a uma internação por qualquer motivo.

Como a família pode ajudar o paciente com delirium agudo

Em primeiro lugar, é preciso lembrar que a simples mudança de rotina e de instalação física pode gerar confusão mental no idoso. Os procedimentos da enfermagem para medir pressão, pulso e temperatura alteram o ciclo de sono-vigília e colaboram para a instalação do delirium. Assim, com o paciente internado, procure deixar o quarto bastante iluminado durante o dia, para ele ou ela manter a consciência do tempo. Se possível, sentar o paciente em uma poltrona e manter conversas sobre a família, a casa e também sobre os eventos mais recentes. Uma dica é levar fotografias e outros objetos familiares. À noite, manter o aposento à meia-luz, com o mínimo de barulho possível e, quando não houver problemas, evitar manipular o paciente da meia-noite às seis horas da manhã.

Criar um ambiente que ajude o paciente é importante

Raramente encontramos em uma acomodação hospitalar a presença de um calendário ou um relógio. Para alguns isso pode diminuir a ansiedade de “não ver o tempo passar”. Todavia, para uma boa orientação do paciente no tempo e no espaço, é importante ter a data e um relógio com o mostrador de tamanho suficiente para a leitura de quem está hospitalizado.

Devemos compreender também que a duração da internação pode ser outro fator agravante, devido ao confinamento em ambiente fechado. Sempre que possível, passear com o paciente na cadeira de rodas pelos corredores do hospital ou outros locais apropriados para esse fim.

Uso de aparelhos e próteses

Muitos idosos apresentam deficiência visual ou auditiva. A perda da percepção por falta de óculos ou prótese auditiva desconecta o paciente da realidade. Em consequencia, não usar esses aparelhos aumenta o risco de delirium. Portanto, recomendamos o uso de óculos, aparelhos auditivos, dentadura, próteses de membros e qualquer outro elemento que melhore as incapacidades pré-existentes.

Orientar o paciente, transmitindo conforto e segurança
Orientar o paciente, transmitindo conforto e segurança

Como lidar com alucinações ou agitação

Nos momentos em que o paciente demonstra algum sinal de confusão mental ou mesmo alucinação visual é preciso confortá-lo, lembrando que está no hospital x, fazendo tratamento para y e que sua família o está amparando. Tranquilamente, é preciso também corrigir os distúrbios perceptivos, informando que o que ele viu não estava ali. Trazer objetos familiares ao paciente, para deixar no quarto também pode ser interessante no sentido de mantê-lo calmo.

Em algumas situações, podemos tentar mudar o foco de atenção, chamando o paciente para fazer algo que ele goste. Também sair do ambiente ajuda a acalmar. Reassegurar que logo ele irá para sua casa e que ele está protegido é crucial.

Conversando com a equipe médica

Utilizando essas medidas, algumas vezes trabalhosas, é possível prevenir o delirium ou diminuir a necessidade de intervenção com medicamentos. Contudo, é preciso manter sempre a equipe médica informada para que ajustem as medicações necessárias. É conveniente fazer um relatório dos sintomas e horários em que aconteceram. Dessa forma, os médicos poderão avaliar o delirium com instrumentos apropriados e tomar as medidas necessárias.

Seguindo essas orientações simples, os familiares podem ajudar seus entes queridos com mais idade a ficarem bem logo. Controlando o delirium agudo, o tempo de internação hospitalar diminui e a recuperação em casa é mais rápida.

Roger Taussig Soares
Neurologista SP
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Dr. Roger Soares é médico neurologista, nascido em 1968 no Paraná. Mora em São Paulo há mais de 30 anos e é médico credenciado dos maiores hospitais da capital paulista. Atualmente se dedica exclusivamente ao tratamento de seus pacientes particulares no consultório no Tatuapé. Gosta de escrever, aprender e provocar reflexões. "Conhecimento verdadeiro é saber a extensão da própria ignorância." Confúcio

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