Critérios diagnósticos para Esclerose Múltipla: revisão dos critérios de McDonald em 2017

Atualizado pela última vez em 03/01/2024

Os critérios diagnósticos de McDonald para Esclerose Múltipla são critérios clínicos, radiográficos e laboratoriais usados no diagnóstico da Esclerose Múltipla. Eles foram criados em 2001 e revisados diversas vezes, à medida que mais conhecimento foi acumulado em torno da doença e novas tecnologias diagnósticas ficaram disponíveis.

A intenção dos critérios de McDonald é de permitir o diagnóstico rápido, precoce e seguro da Esclerose Múltipla. Eles devem ser abrangentes o suficiente para não deixar passar casos sem diagnóstico. Também devem ser específicos o suficiente para não permitir o diagnóstico errado de Esclerose Múltipla em pacientes com outras doenças.

Critérios

O diagnóstico de Esclerose Múltipla pode ser feito desde que se preencha qualquer das cinco categorias de critérios, dependendo do número de surtos que ocorreram:

  • ≥2 surtos clínicos
    • com ≥2 lesões com evidência clínica objetiva
    • outros dados não são necessários
  • ≥2 surtos clínicos
    • Com uma lesão com evidência clínica objetiva e uma história clínica sugestiva de lesão prévia
    • Outros dados não são necessários
  • ≥2 surtos clínicos
    • Com uma lesão com evidência clínica objetiva e sem história clínica sugestiva de lesões prévias
    • Com disseminação no espaço evidente pela ressonância magnética
  • 1 surto clínico (i.e. Síndrome Clínica Isolada)
    • Com ≥2 lesões com evidência clínica objetiva
    • Com disseminação no tempo evidente pela ressonância ou demonstração de bandas oligoclonais específicas no exame de líquor
  • 1 surto clínico (i.e. Síndrome Clínica Isolada)
    • Com 1 lesão com evidência clínica objetiva
    • Com disseminação no espaço evidente na ressonância
    • Com disseminação no tempo evidente na ressonância ou demonstração de bandas oligoclonais específicas no exame de líquor

Disseminação no Espaço

O critério de Disseminação no Espaço requer ≥1 lesões hiperintensas em T2 (≥3 mm no maior eixo), sintomáticas e/ou assintomáricas, que são característicos da esclerose múltipla em dois ou mais dos quatro seguintes locais:

  • periventricular (≥1 lesão, a menos que o paciente tenha mais de 50 anos, caso em que é aconselhável procurar um número maior de lesões)
  • cortical ou juxtacortical (≥1 lesão)
  • infratentorial (≥1 lesão)
  • medula espinhal (≥1 lesão)

A propósito, lesões hiperintensas em T2 localizadas no nervo óptico, tais como aqueles em um paciente que apresenta com Neurite óptica, não podem ser usados para cumprir os critérios revisados de McDonald de 2017.

Disseminação no tempo

A disseminação no tempo pode ser estabelecida em uma de duas maneiras:

  • uma nova lesão hiperintensa em T2 ou captante de contraste de gadolínio quando comparada com uma ressonância magnética prévia (independente do tempo em que foi realizada)
  • presença simultânea de lesões captantes de gadolínio e lesões não captantes hiperintensas em T2 em qualquer ressonância magnética

Esclerose Múltipla Progressiva Primária (PPMS)

Além dos critérios acima, os critérios de McDonald também definem o diagnóstico de esclerose múltipla progressiva primária. O diagnóstico agora requer: 

  • ≥1 ano de progressão da deficiência que pode ser determinada prospectivamente ou retrospectivamente
  • com dois dos seguintes:
    • ≥1 lesões hiperintensas em T2 características de esclerose múltipla em uma ou mais das seguintes regiões: periventricular, cortical ou juxtacortical, ou infratentorial
    • ≥2 lesões hiperintensas em T2 na medual espinhal
    • Presença de bandas oligoclonais específicas no líquor

As novidades de 2017 

Como nas edições precedentes destes critérios de McDonald, o diagnóstico da esclerose múltipla exige a evidência clínica e radiográfica de Esclerose Múltipla. As duas principais alterações na revisão 2017 são:

  • o diagnóstico precoce da esclerose múltipla pode ser feito nos pacientes com síndrome clínica isolada, pela demonstração da disseminação no espaço em ressonância magnética, e pela presença de bandas oligoclonais específicas no líquor, sem a necessidade de demonstração de disseminação do tempo na ressonância
  • lesões sintomáticas ou assintomáticas visíveis na ressonância, com exceção do nervo óptico, podem ser consideradas para determinação de disseminação no espaço ou no tempo.

 Aprimoramentos graduais

A cada nova edição dos critérios diagnósticos de Esclerose Múltipla a comunidade internacional se reúne para incluir os achados mais relevantes de pesquisas recentes. Um ponto que ficou para mais debates nessa última edição foi o uso do potencial evocado visual como critério diagnóstico.

Nossa perspectiva é que quanto mais cedo podemos fazer o diagnóstico de Esclerose Múltipla, maior a chance de termos um bom resultado com o tratamento. Isso porque nas fases iniciais da doença ocorre a estimulação do sistema imunológico que vai determinar o grau de atividade inflamatória. Precisamos controlar a inflamação o mais cedo possível para evitar maiores agressões ao sistema nervoso central.

Como se pode observar, o diagnóstico de Esclerose Múltipla exige conhecimento neurológico e atualização frequente para que os pacientes sejam contemplados com os melhores tratamentos e tenham melhor qualidade de vida.

Roger Taussig Soares
neurologista – São Paulo
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Dr. Roger Soares é médico neurologista, nascido em 1968 no Paraná. Mora em São Paulo há mais de 30 anos e é médico credenciado dos maiores hospitais da capital paulista. Atualmente se dedica exclusivamente ao tratamento de seus pacientes particulares no consultório no Tatuapé. Gosta de escrever, aprender e provocar reflexões. "Conhecimento verdadeiro é saber a extensão da própria ignorância." Confúcio

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