Excesso de analgésicos pode piorar a enxaqueca

Atualizado pela última vez em 04/01/2024

A enxaqueca é uma doença bastante comum, assim como a possibilidade de acesso a medicamentos utilizados para o tratamento das crises. As medicações de prateleiras (over the counter – OTC, em inglês) são aquelas para as quais não é necessária a prescrição ou receita médica para sua compra. O que poucos sabem é que o uso exagerado de sintomáticos para a dor de cabeça pode ser capaz de transformar as crises esporádicas de enxaqueca em uma dor de cabeça constante e incapacitante, denominada cefaleia por uso excessivo de medicamentos.

O termo “enxaqueca transformada” é freqüentemente utilizado para descrever a cefaleia crônica diária que se iniciou como dores episódicas mais ou menos frequentes e que foi agravada pelo uso excessivos de analgésicos. Medicamentos como os anti-inflamatórios, ácido acetil-salicílico, paracetamol, os derivados de ergotamina, os triptanos e os compostos específicos para enxaqueca, encontrados até mesmo fora dos estabelecimentos farmacêuticos são utilizados para controle da dor.

A cefaleia crônica induzida por medicações atinge mulheres com maior frequência que os homens e a faixa etária mais acometida está entre os 30 e 40 anos. Caracteristicamente são pessoas que eram portadoras de um tipo de cefaleia primária – não relacionada a lesões cerebrais – como a cefaleia tensional ou a migrânea, e que, por falta de um acompanhamento médico, passaram a utilizar analgésicos em frequência maior que 3 vezes por semana até várias vezes ao dia, por mais de dois anos. Outro fenômeno que se observa é o uso do analgésico logo no primeiro sinal de dor ou mesmo diante da expectativa. O medo de ter uma crise de dor leva a pessoa a tomar remédios mesmo sem estar com dor.

As características da dor também se modificam na cronificação da doença. De um lado, as crises de enxaqueca “normais” duram habitualmente menos de 48 horas, acometem metade do crânio e têm uma dor pulsátil acompanhada de náuseas ou vômitos. Por outro lado, a cefaleia crônica diária é constante, tipo peso ou pressão, bilateral, é pior pela manhã e pode ter momentos de dores mais fortes. Nem sempre tem alterações gástricas associadas.

Para o tratamento efetivo da cefaleia induzida por medicação é necessário mudar a compreensão do paciente sobre o problema. Deve-se entender que suas dores requerem uma abordagem de tratamento “preventivo” e não apenas os sintomáticos que vinha fazendo uso. Para tanto, há várias drogas disponíveis para o uso de neurologista que atuam de modo a reajustar os limiares de dor no cérebro e evitar as dores, diminuindo sua frequência, duração e intensidade.

Cefaly – tratamento não medicamentoso da enxaqueca

A ideia do tratamento profilático ou preventivo é controlar a química do cérebro para evitar o aparecimento da dor. Além dos medicamentos, recomendamos também a atividade física regular, a terapia cognitiva-comportamental e mindfulness. As mudanças de hábito de vida podem permitir até a suspensão dos medicamentos profiláticos. Essa mudança é acompanhada pelo neurologista.

A dificuldade do tratamento da cefaleia induzida por medicação é que a retirada dos remédios usados pelo paciente pode ser acompanhada de exacerbação da dor. No entanto, é imprescindível que a suspensão dos analgésicos seja feita e a experiência do neurologista nessa fase pode ajudar na obtenção do sucesso desejado. Existem duas correntes de opiniões sobre a abordagem nesses casos. Uma acredita que se deve suspender os analgésicos e entrar com os profiláticos, o paciente deve suportar o período de piora. Outra entende que se dermos profiláticos adequadamente, o uso dos analgésicos cessará espontaneamente.

Em nossa prática de consultório, usamos uma abordagem multidimensional. Indicamos métodos analgésicos não-convencionais para tirar o paciente do ciclo da dor. Isso permite suspender os analgésicos e dar tempo aos profiláticos para agirem. Um exemplo de técnica não-convencional é o bloqueio anestésico do nervo occipital maior que fazemos no consultório. Anestésicos também podem ser usados para bloqueio do gânglio esfenopalatino. Em alguns casos, a acupuntura, o shiatsu e tui-na podem ajudar bastante. Aliás, encaminho meus pacientes para acupunturistas como Fábio Ministério, Lilian Arakawa e Wagner Canalonga pois sei que cuidam do nível físico, energético e espiritual.

Cada paciente tem suas necessidades e fazemos o possível para ouvir e compreender suas particularidades. É preciso saber as expectativas do cliente e combinar os passos do tratamento para que ele consiga chegar até o fim e obter o resultado desejado. Essa aliança entre médico e paciente para combater a enxaqueca crônica é a arma mais poderosa no tratamento. Por outro lado, não há tratamento que resolva na falta desse entendimento.

Roger Taussig Soares
Neurologista – São Paulo
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Dr. Roger Soares é médico neurologista, nascido em 1968 no Paraná. Mora em São Paulo há mais de 30 anos e é médico credenciado dos maiores hospitais da capital paulista. Atualmente se dedica exclusivamente ao tratamento de seus pacientes particulares no consultório no Tatuapé. Gosta de escrever, aprender e provocar reflexões. "Conhecimento verdadeiro é saber a extensão da própria ignorância." Confúcio

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